A França suspendeu na semana passada a venda da pílula Diane 35, que foi associada a pelo menos quatro mortes. A medida coloca novamente em xeque a segurança dos anticoncepcionais e a qualidade de informações que temos recebido a respeito deles.
Um relatório das autoridades sanitárias francesas indicou que, nos últimos 25 anos, além das mortes, o uso de Diane 35 (remédio para acne, mas amplamente receitado como contraceptivo) esteve relacionado a mais de uma centena de complicações graves, como trombose venosa profunda, embolia e AVC (Acidente Vascular Cerebral).
Em 2011, acompanhei de perto uma reunião da FDA (agência norte-americana que regula fármacos e alimentos) em que se discutiu a segurança de um outro tipo de anticoncepcional, de uma geração posterior ao Diane 35. São aqueles que contêm o hormônio drospirenona (como a Yasmin e a YAS, à venda no Brasil)
Foram apresentados quatro grandes estudos que demonstraram que esses contraceptivos podem até triplicar o risco de formação de coágulos em relação às pílulas antigas, de levonorgestrel.
No final, a FDA decidiu que os benefícios da pílula superam os riscos e determinou que os riscos aumentados fossem reforçados na bula. Atualmente, a EMA, a agência reguladora europeia, conduz um novo estudo sobre os riscos.
Mas, afinal, qual a real segurança dos contraceptivos? A associação entre pílulas hormonais e complicações cardiovasculares é antiga. Os próprios médicos costumam dizer que não há contraceptivo hormonal 100% seguro. Mas que, na maioria dos casos, a chance de complicações é baixíssima.
O fato é que, por menor que seja, o risco existe e pode ser ampliado em determinadas situações. Mulheres acima do peso, com colesterol alto, com casos preexistentes da doença na família, que consomem álcool, fumam, são sedentárias ou passaram por cirurgias ou hospitalizações prolongadas têm maior risco de trombose e deveriam estar sendo orientadas sobre isso antes do início da contracepção.
Após a polêmica na França, a Anvisa divulgou um alerta informando que a pílula Diane 35 não pode ser usada por pessoas com histórico de processos trombóticos (quando ocorre a formação de coágulos em veias ou artérias que podem impedir a circulação do sangue, com risco de morte).
Mas me pergunto: quantas mulheres conseguem saber disso antes do primeiro evento trombótico? Poucas, imagino. Aliás, uma pesquisa do Ibope já mostrou que 44% da população brasileira não reconhece os sintomas da trombose.
Como todos os medicamentos, os anticoncepcionais, além de serem contraindicados em determinados casos, podem também sofrer interação quando tomados com outros medicamentos (antibióticos e antifúngicos orais).
Por isso, a recomendação para que as mulheres procurem um médico antes de iniciar a contracepção. O anticoncepcional que a sua amiga usa pode não ser a melhor indicação para você.
N
em assim os riscos estão isentos. Na reunião do FDA de 2011, conversei com Joon Cummins, que havia perdido a filha Michelle Pfileger, 18, um ano antes. A menina teve um tromboembolismo pulmonar, quatro meses após iniciar o uso de YAS.
Segundo a mãe, o ginecologista da filha não a alertou para os riscos da pílula. "Em um dia, minha filha era uma jovem linda, inteligente e com uma vida pela frente. No outro dia, estava morta. Vocês [FDA] estão aqui para proteger nossas vidas e não os interesses da indústria", disse a mãe à câmara técnica da FDA, que, em companhia de outras dezenas de vítimas, pedia a suspensão da venda da pílula.
Não há dúvida da importância da pílula anticoncepcional na vida das mulheres nos últimos 50 anos. Mas não é possível ignorar seus riscos. Por menores que sejam, eles podem ser minimizados com informações corretas e amplamente divulgadas.
Cláudia Collucci colunista da Folha
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